Século XII, Assis, na Itália.
Nasce Clara Favorone, filha de Hortolona e Favarone, uma família considerada
nobre na sociedade local. Acredita-se que a data mais precisa de seu nascimento
é 1194 (embora haja historiadores que apontem o ano de 1193), em plena Idade
Média, marcada pelo desmoronamento do sistema feudal e o crescimento do
comércio.
Como filha primogênita, natural
que sua mãe Hortolona temesse pela gravidez e, principalmente, pelo parto.
Extremamente religiosa, ela sempre pedia um bom parto em suas orações, quando,
um dia, ouviu uma voz que lhe dizia: "Não temas, mulher, porque terás um
parto normal e a luz daquela que vai nascer resplandecerá com mais claridade
que um dia de sol". Por esse motivo, no Batismo, deu o nome de Clara.
A menina Clara cresceu num
ambiente de nobreza e fartura, pois segundo o biógrafo Tomás de Celano, o pai
era militar e a família, dos dois lados, de cavaleiros. Seu pai, Favarone,
filho de Ofredúcio e neto de Bernardino, morava com os irmãos em uma bela e
grandiosa casa, que a família possuía junto à Catedral de Assis havia mais de cinquenta
anos, embora eles também fossem proprietários rurais, com castelos nas
redondezas. Mas Clara também teve o suporte da fé. Sua mãe não se descuidou de
educá-la para ações mais nobres ainda, principalmente fazendo piedade e
caridade com o mais necessitados.
É Celano quem fala:
"Estendia a mão com prazer para os pobres e, da abundância de sua casa,
supria a indigência de muitos". Nesse período da Idade Média, o dinheiro
foi se tornando um novo rei. Os pobres e os doentes, aqueles que não podiam
subir na escala social, eram marginalizados. Celano lembra bem que, mesmo
vivendo em um ambiente de riqueza e ostentação, Clara compreendia que as
aparências e os adornos mundanos podiam ser enganosos. "Foi compreendendo
que as coisas da terra, por mais belas que fossem, não podiam prender seu
coração".
É bom lembrar que a cultura
cavalheiresca foi a primeira da Idade Média a ser elaborada por leigos e não
por clérigos e tinha uma proposta de como deviam ser educadas as mulheres para
serem agradáveis, discretas, piedosas, vindo a ser gentis esposas e mães de
família. Tinham, enfim, que cuidar da boa fama e, as nobres, tinham uma vida
bastante reclusa, enquanto as outras participavam dos negócios dos maridos, da
luta diária para manter a família e para construir a civilização da cidade.
A menina Clara, mesmo vivendo em
um ambiente de riqueza e ostentação, aos poucos foi cultivando a vida piedosa e
simples, uma característica que mais tarde ficaria evidente como mulher
consagrada a Deus.
Quando estava próxima de
completar 18 anos, os pais já começaram a pensar no seu casamento. Clara não
concordava com a ideia de se casar tão jovem e estava sempre adiando a decisão.
Na realidade, ela começava a se interessar pelo projeto de vida de um jovem de
Assis: Francisco. Tomás de Celano explica assim: "Quando ouviu falar do
então famoso Francisco que, como homem novo, renovava com novas virtudes o
caminho da perfeição, tão apagado no mundo, quis logo vê-lo e ouvi-lo, movida
pelo Pai dos espíritos, de quem, embora de modo diferente, tinham recebido os
primeiros impulsos".
Clara sempre esteve bem informada
sobre os passos de Francisco em Assis, isso porque Frei Rufino e Frei Silvestre
eram seus parentes. Não poucas vezes ela escutou as pregações de Francisco, que
costumava falar na Igreja de São Rufino ou na Catedral de São Jorge.
A pregação de Francisco
impressionava porque era diferente dos "sermões". Em suas palavras e
em seu modo de ser havia alguma coisa nova. Era certamente a força do Evangelho
que transparecia. Francisco se apresentava vestido com muita simplicidade, sem
aparato nem ostentação. Suas palavras são inflamadas de amor a Deus. Clara fica
sabendo que a vida dos irmãos é extremamente pobre.
Segundo Celano, Francisco a
visitou, e ela o fez mais vezes ainda, moderando a frequência dos encontros
para evitar que aquela busca divina fosse notada pelas pessoas e mal
interpretada por boatos.
"A moça saía de casa levando
uma só companheira e frequentava os encontros secretos com o homem de Deus.
Suas palavras pareciam flamejantes e considerava suas ações
sobre-humanas". A companheira de Clara nos encontros com Francisco foi
Bona de Guelfúcio, testemunha em seu Processo e irmã de Pacífica de Guelfúcio,
uma das primeiras religiosas de São Damião. Já com 18 anos, Clara tinha
consciência de que não seria compreendida por seus pais quando desse passo
decisivo. Havia confiado a Francisco como desejava realizar sua vocação e ele a
guiaria para cumprir os desígnios de Deus. "Então se submeteu toda ao conselho
de Francisco, tomando-o como condutor de seu caminho, depois de Deus. Por isso,
sua alma ficou pendente de suas santas exortações, e a acolhia num coração
caloroso tudo que ele lhe ensinava sobre o bom Jesus. Já tinha dificuldade para
suportar a elegância dos enfeites mundanos, e desprezava como lixo tudo que
aplaudem lá fora, para poder ganhar a Cristo", completa o seu biógrafo.
Em pouco tempo, Clara chegou à
Porciúncula. Francisco a acolheu e lhe deu as boas-vindas. Comovida, ela entrou
na igreja, ajoelhou-se diante do altar e, por alguns instantes, deteve-se em
oração. Depois, levantou-se com decisão; tirou o calçado, despiu-se do vestido
de brocado e o trocou por uma túnica grosseira, retirou seu rico cinto e o
substituiu por uma corda áspera.
Em seguida, ajoelhou-se ainda;
soltou de uma vez os cabelos que deslizaram sobre os ombros; depois, permaneceu
com a cabeça inclinada, à espera do último sacrifício.
Francisco recolheu com delicadeza
a loura cabeleira e, bem devagarzinho, a cortou. A cerimônia estava acabada.
A
reação dos parentes
Como era de se prever, a reação
dos parentes de Clara não se fez esperar. Pela manhã, apenas descobriram sua
fuga, puseram-se em pé de guerra e rapidamente chegaram ao mosteiro de São
Paulo para reconduzi-la à casa. Ameaçaram arrombar a porta. Querem Clara, viva
ou morta. Com o aparato exterior e as ameaças, esperam assustá-la, mas
iludem-se! Clara é irremovível. Visto que era vã toda a ameaça, recorrem às
boas maneiras, às lisonjas e às promessas; fazem apelo aos sentimentos, à dor
da mãe, das irmãs, de toda a família, mas Clara é inflexível; sabe que está
mais em segurança entre aquelas paredes do que se estivesse num castelo.
Agarra-se
ao altar
Quando se dá conta de que estão a
ponto de perder o controle e recorrer à violência, Clara, com um gesto, fez
desmoronar todas as ilusões deles: foge para a igreja e corre para junto ao
altar; com uma das mãos segura a toalha e com a outra retira o véu da cabeça,
fazendo-a aparecer sem os cabelos que haviam sido cortados. Demonstrava, assim,
ser agora consagrada a Deus e que ninguém podia tocá-la. Diante de tanta
firmeza, aos familiares outra coisa não restou senão abandonarem a igreja e o
mosteiro e partirem confusos.
Transferida
para o mosteiro de Santo Ângelo
Em São Paulo, Clara pôde
permanecer só poucos dias. Foram talvez as próprias monjas a solicitar o
afastamento dela depois da confusão provocada por sua presença. Francisco
interessou-se pela transferência dela. Mais uma vez, dirigiu-se aos Padres
Beneditinos e obteve a transferência de Clara para o mosteiro de Santo Ângelo
de Panzo.
Finalmente
um pouco de paz!
Na quietude e no silencio do
mosteiro de Santo Ângelo, Clara pôde revigorar o seu ideal de vida. Apegava-se
cuidadosamente às prescrições da Regra de São Bento, que possui como
fundamento: “Ora et Labora”! Com isso, Clara não pretendia, certamente, abraçar
a Regra de São Bento. Não teria tido sentido sua fuga para a Porciúncula,
durante a noite, seu total abandono a Deus para além de qualquer estrutura, a
exemplo de Francisco. No mosteiro de Santo Ângelo, Clara viveu por algumas
semanas. Foram para ela dias de serenidade e de alegria indescritíveis.
A alegria de Clara estava toda no
sentir-se amada e protegida pelo Senhor, como mesmo amor com que uma mãe
protege sua filhinha. A fuga de casa lhe havia fechado o mundo às costas para
abrir-lhe um umbral do mistério de Deus. Sua vida, agora, havia se transformado
em um arco-íris de oração e contemplação: em um agradecimento alegre e
infantil. Fugira de casa em uma noite de primavera, para abraçar o ideal de
total pobreza, e encontrara a verdadeira liberdade, a perfeita alegria. Havia
atingido o seu sonho.
Encontra-se
com sua irmã Inês
Clara sentia a necessidade de
externar sua ardente experiência mística. Quase todos os dias, sua irmã Inês ia
visitá-la: era uma jovem belíssima, de somente quinze anos, de grande
sensibilidade para com o sobrenatural. Depois da fuga de Clara, os familiares
haviam depositado nela sua esperança.
“Cara Inês – confiava-lhe a irmã –
lembra-te: é preferível viver um só dia na casa do Senhor, que mil dias fora
dela. A juventude é vento que passa. A beleza se desvanece como a fumaça. A
vida termina e aqui não fica nada”. Clara e Inês, que se julgavam portadoras de
nova Ordem, não podiam certamente permanecer em Santo Ângelo de Panzo.
Francisco obteve para elas o
pequeno convento anexo a São Damião, juntamente com a igrejinha na qual haviam
ido rezar tantas vezes.
São Damião se tomará, assim,
cenáculo de mulheres apaixonadas pelo Senhor, uma semente destinada a germinar
uma fileira de almas belas, sequazes intransigentes dos ensinamentos do
Poverello.
Afinal, Francisco o havia
predito, como conta Clara, em seu testamento. "Tendo subido no muro da
dita igreja, assim gritava então, com voz elevada e em língua francesa: 'Venham
e ajudem-me nesta obra do mosteiro de São Damião, porque, dentro em breve,
virão habitá-lo mulheres e, por sua fama e pela santidade de sua vida, dar-se-á
glória ao Pai nosso celeste, em toda a sua Santa Igreja".
Clara e Inês não ficaram por
muito tempo sozinhas, porque muitas jovens de Assis foram atraídas por seu
exemplo.
Destas primeiras companheiras,
ficam-nos, além do nome, também documentação que testemunha a santidade de sua
vida e sua fidelidade, sem compromisso algum, em seguir o exemplo de Clara.
Pouco depois da entrada em São
Damião, pediu para unir-se às irmãs Offreducci uma amiga de infância de Clara,
Pacífica; e de Perúgia, chegou Benvenuta, conhecida nos anos da fuga de Assis,
juntamente com toda a sua família. Depois, juntou-se Balvina de Martino; no ano
seguinte, Filipa, filha de Leonardo de Gisleno.
Todas prometeram obediência a São
Francisco, que não deixará de seguir a pequena comunidade, com extrema
diligencia e com o amor que merecia a mais bela flor do jardim espiritual.
Para as irmãs, que começaram a
ser chamadas "Damianitas", depois de terem provado sua coragem, a
própria Clara prescreveu, com evangélica simplicidade, uma regra a ser
observada. Em 1215, ela havia impetrado à Sé Apostólica a aprovação do
Privilégio da Pobreza, documento singular, único, com o qual a Santa queria,
aprovada pelo Papa, a escolha, para ela e suas sequazes, de não aceitar nenhuma
posse.
E, na Regra Selada, aprovada pela
forma de vida da nova comunidade, está escrito: "O bem aventurado pai,
considerando que não temíamos nenhuma pobreza, fadiga, tribulação, humilhação e
nenhum desprezo do mundo, que, antes, os tínhamos em conta de grande delícia,
movido de paterno afeto, escreveu para nós a forma de vida deste modo: "Como,
por divina inspiração, vos fizestes filhas e servas do altíssimo Sumo Rei, o
Pai celeste, e desposastes o Espírito Santo, escolhendo viver segundo a
perfeição do Santo Evangelho, quero e prometo, de minha parte e por meus
frades, ter sempre de vós e deles atento cuidado e especial solicitude'. O que
ele, com toda a fidelidade, cumpriu enquanto viveu e quis que fosse sempre
cumprido pelos frades".
Depois de três anos de vida
monástica, Francisco julgou oportuno dar à comunidade de São Damião um esboço
de organização: pensou em nomear uma abadessa. Esta não podia ser senão Clara,
a primogênita da Ordem.
Mas Clara refutou: "Não, não
eu, Francisco! Fugi de todas as honras e da vaidade do mundo, não posso me
colocar no comando das minhas irmãs. Quero só servir e obedecer!"
"Bem!" - disse-lhe
Francisco em resposta - "se tu queres obedecer, então eu te peço que o
faças por obediência!".
Desejosa
da palavra de Deus
Clara, apenas eleita abadessa,
sentia necessidade de uma ajuda segura: temia, sobretudo, não ir pelo caminho
da perfeita pobreza. Por isso, teria desejado encontrar-se mais vezes com
Francisco. Mas o "Poverello" estava muitas vezes longe de Assis e
evitava dirigir-se frequentemente a São Damião para não suscitar
"admiração e suspeita" entre as pessoas.
Havia recomendado aos seus frades
para não terem muita "familiaridade" com as monjas e não entrarem nos
seus mosteiros. E nisto, ele queria ser o exemplo. Em São Damião, Clara se
encontrou, finalmente, à vontade.
Transpondo aquelas paredes em
ruínas, compreendeu ter chegado para onde Deus, havia tanto tempo, a conduzia. Isso
lhe dizia a nudez das paredes, a desolação dos locais, os muros sem reboco, as
rústicas tábuas nem mesmo esquadradas do assim chamado "pequeno
coro", a escada íngreme e desconexa que levava ao dormitório, um grande
quarto nu e frio.
Sem dúvida, era o convento mais
pobre jamais visto: a verdadeira cidadela da Santa Pobreza.
Francisco havia predito a Clara
que outras senhoras a haveriam de seguir e abraçariam o seu ideal de vida.
Depois de Inês, a primeira a acorrer a São Damião foi Pacífica de Guelfuceio,
aquela que a ajudou na fuga noturna.
Depois, veio Benvinda de Perusa,
sua caríssima amiga. Em seguida, ajuntaram-se Balvina de Offreduccio, Cecília
de Gualtiero, Angelúcia de Angeleio, Filipa de Ghislerio, Francisca de messer
Capitâneo, Amata de Martino e tantas outras. Beatriz, irmã menor de Clara, e a
mamãe Hortolana completaram o grupo.
Nasceu, assim, em São Damião, a
segunda Ordem franciscana, o ramo feminino, ao qual Francisco gostava de chamar
o das "Senhoras Pobres".
Um
oásis de paz
Em pouco tempo, a comunidade de
São Damião tornou-se um autêntico oásis de paz, onde tudo era calor e
intimidade.
A própria desolação do local, das
paredes, dos utensílios, transmitiam serenidade e alegria. Lamento nenhum se
levantava de São Damião: a pobreza da casa, incômodos, os leitos, o frio, a
fome, não atormentavam. As Irmãs, quanto mais pobres, mais se sentiam
contentes.
Clara, cada recanto do convento
era um recanto do paraíso, cheio de calor e de intimidade: um perene convite à
festa, à alegria.
As
mais pobres do mundo
Nada era de sua propriedade, mas
tudo era aceito como empréstimo; julgavam-se "peregrinas e forasteiras
neste mundo". Andavam de pés descalços em todas as estações, com
vestimentas grosseiras e uma corda à cintura, a cabeça raspada e coberta com um
pano branco e preto.
Seu alimento era "moderado e
austero"; haviam-se proposto "jejuar durante todo o ano". Por
leito, tinha uma esteira estendida sobre o pavimento nu e, por travesseiro, um
pedaço de madeira. O dormitório era um grande quarto frio e miserável, onde os
pobres catres eram alinhados junto à parede.
Segundo Tomás de Celano, Clara
estava muito doente depois de quarenta anos vivendo em extrema pobreza. "O
vigor de corpo, castigado nos primeiros anos pela austeridade da penitência,
foi vencido no final por dura enfermidade, para enriquecê-la, doente, com o
mérito das obras. A virtude aperfeiçoa-se na enfermidade", diz o biógrafo.
Quando a enfermidade começa a se
agravar, Clara recebe a visita do Cardeal de Óstia, padroeiro e protetor da
família franciscana. Tratava-se do Cardeal Reinaldo de Segni, que mais tarde
seria o Papa Alexandre IV. Foi ele que obteve do Papa a confirmação do
Privilégio da Pobreza.
Sabendo do estado de Clara, o
Papa Inocêncio IV, que residira com a Cúria em Perúsia no período de 1251 a
1253, foi logo visitar a serva de Cristo com os cardeais, como conta a Legenda:
"Entrou no mosteiro, foi ao leito, chegou a mão à boca da doente para que
a beijasse. Ela a tomou agradecida e pediu com maior reverência para beijar o
pé do Apostólico. Depois pediu com rosto angelical ao Sumo Pontífice a remissão
de todos os pecados. Ele exclamou: “Oxalá precisasse eu de tão pouco perdão!” A
irmã Inês veio de Monticelli, onde era abadessa, para visitar a Irmã Clara. Ao
ver o estado dela, chorou muito. E foi consolada pela irmã: "Irmã
caríssima, apraz a Deus que eu me vá; tu, porém, deixa de lado o pranto, porque
chegarás junto do Senhor logo depois de mim, e Ele te concederá um grande
consolo antes que eu me aparte de ti". Na realidade, Inês morreu logo
depois.
Tomás de Celano relata que no
final pareceu debater-se em agonia durante muitos dias, nos quais foi crescendo
a fé das pessoas e a devoção do povo. Também foi honrada diariamente como
verdadeira santa por visitas frequentes de cardeais e prelados. O admirável é
que, não podendo tomar alimento algum durante dezessete dias, revigorava-se o
Senhor com tanta fortaleza, que ela confortava no serviço de Cristo todos que a
visitavam.
No leito de Clara, a presença dos
frades: Frei Junípero, Frei Ângelo e Frei Leão.
O biógrafo diz que, no momento da
partida, Clara conversava com sua alma nestes termos: "Vai segura, porque
tens um bom companheiro de viagem. Vai, porque aquele que te criou, também te
santificou e cuidando de ti, como uma mãe cuida de seu filho, te amou com terno
amor. Senhor, sede bendito porque me criaste".
A agonia durou uma noite inteira.
Na manhã de 11 de agosto de 1253, Clara entrava na glória e ia encontrar-se com
o Amado Esposo de sua alma. Nas portas do paraíso seria recebida pelo Pai
Francisco.
A Legenda de Santa Clara, logo
após a sua morte, as pessoas "afluíram em tamanha multidão que a cidade
parecia deserta". Até o podestá, ou prefeito, apresentou-se imediatamente
"com um cortejo de cavaleiros e uma tropa de homens armados". E, no
dia seguinte, moveu-se a corte pontifícia inteira. Foi, então, que o papa e os
cardeais, "achando que não era seguro nem digno que tão precioso corpo
ficasse longe dos cidadãos, levaram-no honrosamente para São Jorge, com hinos
de louvor, ao som das trombetas e com solene júbilo" (LSC 37).
Logo depois, a igreja de São
Jorge foi reformada e ampliada, transformando-se na Basílica de Santa Clara,
que ainda estava em obras quando, no dia 3 de outubro de 1260, seu corpo foi
solenemente transladado. Lá ficou até 1850. O sarcófago foi descoberto no dia
30 de agosto desse ano, e aberto no dia 23 de setembro.
A partir daí, cavou-se uma cripta
no solo da basílica e se cuidou de apresentar o corpo da Santa, revestido de
hábito e deitado sobre um colchão, dentro de um precioso relicário, para que os
peregrinos pudessem venerá-la. Tudo isso ficou pronto no dia 30 de outubro de
1872.
Clara foi canonizada no ano de
1255, pelo Papa Alexandre IV, já que o Papa Inocêncio IV morreu em dezembro de
1254. O anúncio solene foi feito na antiga cidade de Anagni, conquistada pelos
romanos no século IV a,C. Não se sabe exatamente a data, mas há uma corrente que
coloca como marco o dia 15 de agosto, festa da Assunção.
Antes de partir, Clara deixou a
sua bênção:
Eu vos abençoo, ainda viva, e abençoar-vos-ei
depois da morte; quanto posso vos bendigo, e mais do que posso vos abençoo com
todas as bênçãos com as quais o Pai das misericórdias abençoa e abençoará os
seus filhos do céu e da terra.
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